A Metamorfose

Por Marcelo Tavares.

Quando certa manhã acordei de sonos intranquilos – qualquer semelhança com a novela de Kafka é pura “co-incidência” – me vi tomado por uma sensação nauseante, decorrente de um sonho em que uma ex-namorada, com o corpo em completo estado de putrefação, me forçava a fazer sexo com ela, o que me levou, de súbito, ao acordar, a procurar o banheiro mais próximo para despejar o vômito. Após uma ligeira melhora me dei conta de que aquele dia era um dia como outro qualquer; com compromissos rotineiros; cumprimentos rotineiros; regras rotineiras; falsidades rotineiras a cumprir.
Ao sair de casa, com a lembrança do sonho ainda vivido na cabeça, deparei-me com um cão extremamente fétido, com o corpo tomado por sangue em todos os estados físicos da matéria, os olhos brancos, como de um homem com glaucoma, desaparecendo em meio a secreções que escorriam pelo focinho chegando até a boca, o que me fez vomitar novamente, em meio a multidão que passava e repassava pela rua e ignorava aquele ser... Ainda transtornado caminhei em direção a uma condução para chegar ao trabalho, na esperança de encontrar um ambiente mais calmo para acabar com a perturbação. O que não ocorreu. O calor intenso, a quantidade de corpos por metro quadrado dentro da condução, o trânsito, a poluição e por fim, no meio da viagem, uma mulher com o filho no colo, aparentemente também transtornado, senta-se a minha frente. Não demorou muito para que ela o posiciona-se de cabeça para fora e ele despejasse litros de bifes acebolados, feijão e picolés de milho verde; não fosse o vidro de onde estava sentado estar fechado todo esse vômito – outrora suculento – se choraria ao meu rosto, o que não me impediu de vomitar, de novo.
Nesse momento pedi para descer da condução, pois não conseguia controlar a ânsia, o que não resolveu em nada meu problema. Tudo agora ao meu redor me fazia vomitar. Prostituição, trapaças, corruptos, assassinos, promessas, mentiras, verdades, ladrões, pecadores e muitas bocas que abriam além de suas dimensões e gritavam projetando saliva a metros de distância. A partir desse momento vomitei. E acordei. Metamorfoseado...

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