Escultura Disforme


Por Michele Fernandes

Em um salão de beleza qualquer, num sábado qualquer, entre esmaltes vermelhos e secadores de cabelo, um papo flui com riquezas de detalhes.
- Pois é menina. Fiquei decepcionada.
- Eu estou chocada! Como pode? Ele é todo bom!
- É! Quase perfeito. Bonito, inteligente, beija bem. Se não fosse esse pequeno detalhe...
- Aff, me conta, me conta tudo direitinho.
- Bem, depois do show e de muitas biritas, decidimos ir a um motel. Baratinho, já que ele me confessou que não tinha mais dinheiro. Paguei! Foi broxante des daí.
- Mais o sino continuou tocando?
- Sim, sim. Até a descoberta entre os lençóis.
- Putz!
- O olhar estético da coisa sempre me foi importante. Você sabe né?
- Sei.
- Cara, não deu para esconder a frustração.
- Nossa! Ele percebeu?
- Não. Acho que não. Canalhamente, fingir uma indisposição. E ele como é um fofo, compreendeu.
- Poxa. Você não pode dar importância para isso. A ciência não diz que o prazer está no sino?
- Eu sei, mais gosto de usar minha profundidade.
- Hahahhahaaha... E agora, vai dispensá-lo?
- Não! Gosto dele.
- Então... Repito, e agora?
- Agora, vou perguntar a alguns amigos arquitetos, o que fazer quando se tem a escultura de um anjinho barroco nas mãos.

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