Por Diego El Khouri
Thina Curtis. Fanzineira ativa desde os anos noventa. Responsável pelo primeiro Fanzinada que ocorreu no Brasil (e foi esse ano em sampa, dia 29 de março) em comemoração ao dia internacional do fanzine.
Você está na produção de fanzines desde os anos noventa. De lá pra cá o que mudou na cultura alternativa?
Mudou muito, até devido a essa necessidade atual através dos meios de mídia rápida e globalizada. Isso possibilita inúmeras ações, fato que antes era meio difícil, até mesmo porque os contatos eram feitos por conta e no boca-a-boca.
Spell Work já é um clássico. Um painel interessante e profundo do que se está produzindo no país. Além de fortalecer a cena o que pretende com esse fanzine?
Obrigada, imagina, temos muitos fanzines incríveis pelo Brasil afora, de vários segmentos que são conhecidos lá fora e pouco por aqui e vice versa.
Acho que o que pretendo já é o que está acontecendo. É reunir pessoas que estão fazendo algo, são articuladores, ativistas, multiplicadores, não só do meio alternativo, mas também como cidadãos conscientes. Na edição #8 mesmo foi a prova real que isso é possível, um time e tanto do underground.
O Fanzinada que se realizou em 29 de março desse ano, comemorando o dia mundial do zine e foi um marco na cultura alternativa. O que te levou a ter essa iniciativa e como foi o evento?
Foi realmente comovente para mim! Há tempos venho tentando reunir o pessoal, mas a incompatibilidade de datas, locais e outras coisas sempre adiava este encontro.
Sempre senti a necessidade de reunir não só os fanzineiros(as), mas artistas no geral que estão por aí fazendo seus trabalhos e não tem muito espaço para divulgarem também, e quando começamos a nos mobilizar e vi que estava começando a dar certo senti um frio na barriga! Era um sonho muito antigo, devo agradecer muito aos meus amigos e parceiros que abraçaram a idéia, a Olga e o pessoal do Gambalaia por apoiarem. O evento reuniu muita gente fera, todo mundo junto somando multiplicando. Foi a prova que quando se quer algo, é possível. Reunimos poetas, grafiteiros, cineastas, atores, desenhistas, cartunistas, entre outros artistas e claro, muitos fanzineiros(as). O evento rendeu e fortaleceu novas e fortes amizades, e também novos projetos e convites para participar com a Fanzinada em vários locais do Brasil e também fora. E claro, comemorar essa data pela primeira vez por aqui foi histórico!
Fanzine é um tipo de revista que existe desde 1929, não aliado as grandes mídias. Por que ainda muitas pessoas não conhecem esse tipo de trabalho?
Sinceramente, não sei te responder o que acontece. Hoje em dia até entendo que a nova geração já nasceu com a internet e suas ferramentas, também muita gente conhece fanzine com outros nomes: como jornal, revista, folhetim etc...
E também temos que levar em conta que no nosso país as pessoas ainda leem muito pouco, e o acesso a informação ainda é impreciso.
O documentário "Fanzineiros do Século Passado" produzido por Marcio Sno, que inclusive você participa, mostra a força que está o zine hoje no país com esses trabalhos de lembrança e divulgação e a importância que ele teve no Brasil. Nos fale dessa película e como era possível divulgar essas revistas antes do advento da internet?
Realmente o documentário do Márcio Sno já é uma referencia nacional para todos nós que fazemos fanzines. É emocionante assistir todos aqueles depoimentos, o documentário veio consolidar o revival dos zines. Eu sempre fui muito a shows, eventos literários, e alí era distribuído para pesoas que gostavam e muitos eram leitores assíduos e também pelas cartas que era vital para nossa comunicação e também era muito prazeroso. Fiz muitos amigos e trocávamos muitas cartas, ideias e presentes, era um intercâmbio que possibilitava você ter acesso ao que estava acontecendo, informações a saber por exemplo, o que acontecia no RJ, MG, Brasília, Recife, Argentina, Europa... tenho amigos que se tornaram grandes amigos até hoje. Também possibilitava as ações acontecerem.
Eu mesma organizei vários eventos com shows, poetas, exposições, zines entre outras coisas através de cartas e horas no orelhão (com direito a saco de fichas) e gente olhando feio na fila (risos).
Existe competição e intrigas no meio alternativo?
Eu pessoalmente tive poucos problemas nessa longa jornada, há muito tempo o que acontecia era muitas pessoas serem muito radicais e não entenderem que o fato de você por exemplo gostar e se identificar com um estilo de música, não devia se misturar com outros e algumas desavenças foram por isso, por bobeira, mas eram umas discussões intensas também! Mesmo porque o fanzine é muito livre e você não se prende muito a isso quando faz fanzines.
Acredita no fim do livro impresso?
Não. O prazer de se ler um livro, sentí-lo,carregá-lo é indiscutível,acredito que as pessoas até comecem a ler mais os e-books como complemento, mais não deixem de ler, de comprarem seus livros.
Qual o por quê de produzir arte?
Paixão, necessidade, conhecimento, liberdade, válvula de sobrevivência.
Que retorno o fanzine te dá?
Um retorno que como sempre brinco com as pessoas mais próximas, é algo que a mastercard não paga! É muito legal este vinculo que você cria com as pessoas, o reconhecimento e não estou falando em dinheiro, são valores reais, uma troca de energia, satisfação, carinho e amizade das pessoas que você vai conhecendo. Eu posso dizer que evoluí muito como pessoa depois que conheci e comecei a fazer fanzines. Uma artista engajada e intensa em suas produções alternativas de muito conteúdo e força.
Você está pretendendo levar pra Goiânia o Fanzinada. Como será esse novo evento? O negócio é rodar o país?
Puxa!Já estamos articulando isso e creio que irá dar certo né Diego? É bom a galera de Goiânia ir se preparando, que estamos chegando pra zinar tudo! Estamos analisando algumas possibidades, mas vem muita coisa boa por ai, hein! Sim, já surgiram alguns convites para alguns lugares, o Rogério, (Oficinativa) por exemplo, participou de uma ocupação em (Piracicaba-sp), a ideia é circular mesmo, não só aqui no Brasil como na América Latina também.
Também estamos articulando um evento que promete render muitos frutos e reunir a galera do Brasil e América Latina num espaço virtuoso: a Fanzinoteca Mutação do grande Law Tissot, já temos apoio da UGRA Press, alguns zineiros(as) já estão se preparando para o evento vamos torcer para dar certo.
Qual a sua grande imprudência?
Sou um ser humano como todo mundo,tenho minhas imprudências,nada exagerado.
Talvez minha maior imprudência seja viver a vida como eu quero, sou aquariana convicta. Gosto de liberdade e pago um preço grande por isso, atormenta e assusta um pouco as pessoas. Sou uma pessoa deteminada, sei o que quero e sei meus limites...
Sou um ser humano como todo mundo, tenho minhas imprudências, nada exagerado.
Até a Fanzinada-Goiania!!!
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