Megafone entrevista Joe Bennett, o Bené


O quadrinista paraense Joe Bennett deixou seu lápis de lado e bateu um papo com o Megafone. Joe, ou simplesmente Bené, foi responsável pelo traço de heróis como Mulher Maravilha, Homem Aranha e Wolverine, também trabalhou com o mestre Alan Moore e conta um pouco como é viver de quadrinhos



Quando tu começaste a fazer quadrinhos?
Aos cinco anos de idade, copiando desenhos e gibis. Com 17 anos, mandei meus trabalhos para uma editora de São Paulo, que começou a publicar.
Da época que tu começaste até hoje, o que mudou no mercado de HQ?
Não existe mais mercado nacional de quadrinhos e o internacional mudou conforme as tendências de mercado: estética e linguagem. Os caras que faziam sucesso na década de 90, hoje não fazem mais. É um mercado dinâmico, sempre em mutação.
E no meio independente?
Eu não acompanho. E o tipo de quadrinho que eu gostava; terror e erótico, não existem mais. Há muito quadrinho independente, mas eu não gosto porque fui criado lendo Marvel DC. Eu gosto mesmo é de mainstream, porém com qualidade. Não tenho a cultura de quadrinho alternativo. E não é preconceito, é conceito.
Devem existir políticas públicas de incentivo à leitura de HQ?
Não. Acho que tem que haver editoras que apostem nisso. Antigamente só havia os quadrinhos como diversão e escapismo. Hoje tem videogueime e mais um milhão de coisas. Se tu não tiveres a cultura do quadrinho desde pequeno, quando crescer tu não vai ler.
O que é um Heroi para ti?
Hoje a figura do herói está meio deturpada. Ele é, teoricamente, exemplo para todo e qualquer ser humano, fisicamente e moralmente, mas atualmente isso está deturpado. O herói para mim é o mito grego.
O que os quadrinhos influenciaram na tua vida?
Tudo. O quadrinho me fez aprender a ler, me tornou um profissional, me fez conhecer várias pessoas, me fez criar minha filha e me deu tudo o que tenho. Se hoje em dia eu sou alguém, eu devo meu ao trabalho com quadrinhos.
Tem alguém que tu admiras nos quadrinhos?
Sempre admirei desde criança, o José Luiz García Lopez. Hoje o admiro e tiver a felicidade de falar pessoalmente com ele, em Nova Iorque. Ele é um gênio e é o meu mestre.
Quais teus trabalhos prediletos?
Eu gosto muito do Hawkman, que é o Gavião Negro, da Liga da Justiça que estou fazendo e também gostei muito de meu Homem Aranha. Mas eu costumo dizer que o melhor trabalho eu ainda não fiz, porque ainda vou fazer. É nunca estagnar, sempre pensar em progredir e ir adiante, todo desenhista tem que pensar da mesma forma.
E os que tu ainda queres fazer?
Eu quero continuar trabalhando, não tenho preferência por personagem x ou y.
E a experiência com o Alan Moore?
Foi do cacete. Só gostaria de fazer de novo aquilo, mas com meu traço atual, porque naquela época eu era obrigado a ter o traço vigente da época. Além da maturidade pessoal que eu tenho, naquele tempo eu ainda era verde no quadrinho internacional, eu estava com dois anos e hoje eu tenho vinte.
Quadrinho preferido? E o que tu recomendas para quem está começando a ler HQ?
Watchmen. O filme é uma porcaria, não gostei. V de Vingança, O Cavaleiro das Trevas, os trabalhos do Stan Lee e do Jack Kirby na década de 60, começando por isso o cara descobre o resto.
Qual tua época marcante dos quadrinhos?
Eu gostava quando era moleque, dos cinco anos aos 18, depois não li mais. Há 25 anos eu não leio HQ, trabalho com quadrinho, mas não leio. Não consigo ler mais, as histórias não me chamam para que eu as leia. Eu gosto de trabalhar nelas, estar por trás dos bastidores. Elas não fazem mais minha cabeça. Eu leio algumas coisas que eu ganho, mas é muito raro. Prefiro ver um bom filme a ler qualquer quadrinho.
E as recentes adaptações de HQ para o cinema?
Eu acho muito legal o cinema beber do quadrinho, o que faz o quadrinho se tornar um pouco mais importante. Mas não muda nada para nós desenhistas, ou seja, não é porque Hollywood está fazendo filmes e filmes de super herói que o nosso salário aumenta, mas é muito bom que o público em geral conheça. O que gera um reconhecimento para nós, desenhistas.
O que te inspira no cinema?
A narrativa. Eu gosto muito de cinema desde criança, então eu procuro utilizar a narrativa cinematográfica e aplicá-la ao meu trabalho.
Qual foi a melhor adaptação de HQ para cinema?
Batman – O Cavaleiro das Trevas, do Cristopher Nolan, para mim é um filme perfeito. A história é muito boa. É um filme policial e de aventura, que ás vezes tu esqueces que é o Batman.
Já que hoje tu preferes cinema, quais os cineastas favoritos?
Stanley Kubrick, Tim Burton; são tantos.
E as dicas para quem quer desenhar profissionalmente?
Estudar bastante, ler bastante, não só quadrinhos, e desenhar de dia, de tarde e de noite.

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